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O impacto da Reforma Tributária no planejamento tributário das empresas
Saiba sobre o fim da guerra fiscal e a importância do compliance
Com a promulgação da Emenda Constitucional 132/2023 e a edição da Lei Complementar nº 214/2024, o Brasil deu início à maior reestruturação tributária das últimas décadas. A substituição de tributos como ICMS, ISS, PIS e COFINS por novos tributos como IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) sinaliza não apenas uma mudança legislativa, mas uma verdadeira disrupção nas estratégias de planejamento tributário empresarial.
Neste artigo, você entenderá como essa reforma afeta diretamente os pilares do planejamento tributário e o que sua empresa deve fazer para se adaptar à nova realidade.
Do planejamento baseado na cumulatividade para o crédito financeiro
Até então, o planejamento tributário no Brasil considerava fatores como:
- Cumulatividade parcial (ex: ICMS-ST, PIS e COFINS cumulativos);
- Guerra fiscal entre estados (ICMS e benefícios locais);
- Fragmentação do sistema (5 tributos diferentes sobre consumo).
Com a reforma, essas estratégias perderão espaço. O novo modelo estabelece a não cumulatividade plena com crédito financeiro amplo, ou seja:
- Crédito sobre todos os insumos (inclusive bens do ativo, serviços e energia);
- Extinção de benefícios fiscais locais;
- Tributação no destino (IBS/CBS).
Isso força o planejamento tributário a migrar de uma lógica formalista e geográfica para uma lógica financeira, estrutural e sistêmica.
O fim da guerra fiscal e a neutralidade geográfica
A uniformização das alíquotas do IBS e a criação de um comitê gestor único acabam com a lógica de “sediar empresas em estados mais vantajosos”.
No planejamento tributário:
- Não fará mais sentido criar filiais apenas para se beneficiar de benefícios estaduais ou municipais.
- Ganhará importância a eficiência logística e operacional, já que a alíquota será a mesma em todo o território nacional.
As empresas devem reavaliar seus centros de distribuição, estruturas societárias e contratos de substituição tributária, pois muitos deixarão de existir.
Tributação por fora e efeitos contábeis no planejamento
A CBS e o IBS terão incidência por fora, não integrando mais a base da receita bruta. Isso impacta diretamente:
- A formação de preços;
- O lucro contábil aparente;
- A base do IRPJ e da CSLL, se não houver ajuste contábil adequado.
A nova sistemática eleva a responsabilidade do contador na apuração do resultado contábil e requer revisão do plano de contas e dos critérios de precificação tributária.
O Split Payment e o novo fluxo de caixa tributário
A LC 214/2024 trouxe a previsão do split payment — ou seja, o pagamento fracionado em que o valor dos tributos é repassado diretamente ao fisco no momento da transação.
Impactos no planejamento tributário:
- Redução do controle da empresa sobre o recolhimento dos tributos;
- Impossibilidade de postergar pagamentos para gerenciamento de fluxo de caixa;
- Necessidade de monitoramento em tempo real dos créditos apropriados.
O fluxo de caixa tributário, antes utilizado como ferramenta de planejamento financeiro, será praticamente neutralizado.
Planejamento preventivo: o compliance como estratégia
Com o novo sistema, o risco fiscal passa a estar diretamente ligado à automação e conformidade tecnológica. Planejar significará:
- Ter sistemas fiscais integrados à contabilidade;
- Estar em conformidade com os novos campos da NF-e (Nota Técnica 2025.002 – RTC);
- Monitorar a correta apropriação dos créditos do IBS e CBS.
Ou seja: compliance digital será parte do planejamento tributário.
Novas oportunidades e riscos para as empresas
Com a nova legislação, surgem também oportunidades para reorganizações societárias e revisões contratuais. Por exemplo:
- Holding com centralização de créditos tributários;
- Revisão de cláusulas de responsabilidade por tributos em contratos de prestação de serviços;
- Gestão eficiente de créditos presumidos e diferimentos autorizados pela LC 214/2024.
Contudo, também aumentam os riscos de:
- Distorções na escrituração;
- Créditos indevidos gerando glosas;
Planejar agora é sobreviver amanhã
O novo cenário exige das empresas uma postura ativa e estratégica. Planejar não é mais apenas escolher o melhor regime tributário ou buscar incentivos: é ter governança fiscal, contábil e tecnológica, integrada e preventiva.
O papel do contador e do tributarista será mais central do que nunca, exigindo atualização constante e atuação consultiva para garantir que as empresas naveguem com segurança neste novo ambiente tributário.